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quinta-feira, 21 de agosto de 2025
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
Franklin Távora e a Literatura do Norte (Resenha), de Paulo Marçaioli
Blog: esperandopaulo
João Franklin da Silveira Távora foi jornalista, deputado provincial, historiador ligado ao IHGB e romancista. Ficou conhecido na história da literatura brasileira como fundador da chamada Literatura do Norte, escola assim designada por Sílvio Romero, precursora do regionalismo literário nordestino, cuja maior expressão se daria dentro da geração modernista do início do século XX, com escritores como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e Jorge Amado.
Nosso escritor nasceu em 13 de Janeiro de 1842 no sítio Serrinha da Glória, antiga Candeia, região encravada na Serra de Baturité, no centro-norte do Ceará. Era filho de Camilo Henrique da Silveira Távora, alcunhado de “o indígena”, um liberal simpático aos movimentos revolucionários de 1817 e 1824.
A Revolução Pernambucana de 1817 foi um movimento de caráter liberal e republicano, cujas origens remetem à divulgação das ideias revolucionárias da revolução francesa e a oposição ao absolutismo monárquico Português: o descontentamento dos liberais pernambucanos foi agravado pelos enormes gastos pecuniários decorrentes da chegada da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, com aumento de impostos para manter o luxo da corte e para travar guerras na Cisplatina, sem prejuízo da nomeação de portugueses para os cargos públicos em detrimento da nobreza da terra.
Já em 1824 eclodiu a Confederação do Equador, movimento de caráter mais nitidamente separatista, liderado pelo padre Frei Caneca e que contou com apoio financeiro dos EUA, que já naquele tempo se interessava pela fragmentação territorial do Brasil, a balcanização de um grande país como meio de melhor subjugá-lo.
O radicalismo político pernambucano, tanto 1817 quanto 1824, encontra sua origem mais remota em 1710/1711 na Guerra dos Mascates, que seria tratada com minúcia pelo escritor nos livros “O Matuto” e “Lourenço”.
Politicamente, Franklin Távora seguiu os passos do pai: sempre foi um progressista, defendendo a abolição da escravidão, a república e a reforma das instituições de ensino.
Entre os anos de 1859 e 1863, o autor de “O Matuto” estudou na Faculdade de Direito do Recife, quando fundou e participou de centros, sociedades e associações de estudantes voltadas a atividades literárias e políticas. Neste período, também se aproximou do jornalismo, com o nobre objetivo de ajudar financeiramente a família, que passava por dificuldades. Começou como tipógrafo e foi evoluindo para revisor de provas, repórter, editor, chefe de redação e, mais tarde, fundador de jornais.
Sua aproximação com a política deu-se neste período de participação na imprensa, tendo atuado no “Jornal do Recife”, fundado em 1859 por José de Vasconcellos e, alguns anos depois, no Jornal “A Situação” liderado pelo Conselheiro Francisco de Paulo Silveira Lobo, filiado ao Partido Progressista.
Já ligado a este último partido, foi eleito deputado provincial de Pernambuco para mandato entre 1867/1868, quando tinha apenas 25 anos de idade. Já no primeiro ano de mandato, é nomeado para o cargo de Diretor Geral da Instrução Pública, cargo que hoje equivale ao secretário estadual de educação.
Ao assumir o encargo, declarou que pretendia reformar as instalações da Diretoria-Geral, dos diversos colégios a ela vinculados, reorganizar administrativamente as atribuições dos professores e lutar pela liberdade de ensino em Pernambuco. Neste trabalho, encontro ferrenha oposição do Partido Conservador.
Dada a sua orientação política liberal e progressista, Távora se empenhou na campanha de libertação dos escravos na imprensa, sendo responsável por traduzir a famosa carta endereçada ao mundo por Vitor Hugo contra a escravidão, na qual o autor de Os Miseráveis alertava: “Ter Escravo é merecer ser escravo”.
O que é curioso é que o seu posicionamento político progressista, ao contrário do que se poderia supor, não fez com que o escritor deixasse de ser simpatizante do lado de Olinda e dos senhores de engenho, contra os mascates de Recife, em seus dois livros sobre a Guerra dos Mascates.
Na verdade, mais do que um conflito entre comerciantes burgueses e latifundiários, o escritor via naquela guerra as sementes do movimento de libertação do Brasil em relação à Portugal: a oposição retratada na obra de dava entre a opressão da metrópole e a reação nacionalista liderada pelos nobres de Olinda. Ainda que numa leitura mais economicista ou marxista daquele conflito, o lado burguês e citadino de Recife aparecesse como “progressista” em relação ao lado aristocrático dos senhores de engenho de Olinda. O conflito, nesta perspectiva, se deu entre o comércio de natureza capitalista e a agricultura de natureza escravista ou, como querem alguns, “feudal”.
A GUERRA DOS MASCATES
“Só uma vista curta não verá na guerra dos mascates, antes uma luta travada por dois grandes princípios, do que uma revolta filha de preconceitos ridículos e costumes atrasados. Certo concorreram não pouco para essa luta o costume e o capricho antigo, inflexíveis ambos; mas o seu papel nessa grande representação foi mais secundário do que principal. A parte essencial e verdadeiramente dramática da ação, essa pertencia a dois grandes interesses, assim das sociedades modernas, como das antigas – ao comércio e a agricultura, princípios que, quando acordes em seu desenvolvimento, trazem a propriedade e riqueza dos povos, e, quando divergentes, o seu atraso senão o seu aniquilamento”. (O Matuto).
A Guerra dos Mascates (1710/1711) de fato ficou conhecida na história como a oposição entre as duas cidades, o que de fato foi a exteriorização geográfica do conflito. As suas origens, como não poderia deixar de ser, se deram no plano econômico.
Anos após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, a economia da região entrou numa crise decorrente da baixa do açúcar no mercado internacional e da concorrência do açúcar produzido nas Antilhas.
A concorrência afetou os ricos senhores de engenho de Olinda, que entraram em decadência por não mais obterem os mesmos lucros com a produção açucareira. Por esta razão, os proprietários dos engenhos foram obrigados a contrair empréstimos com os comerciantes portugueses, chamados de mascates, que ocupavam Recife e possuíam dinheiro para emprestar aos senhores de Olinda, porém cobravam juros altíssimos pelos empréstimos, ocasionando o endividamento cada vez maior dos olindenses. Até então, Recife era apenas um porto e um “bairro” de Olinda. Porém, com o desenvolvimento econômico, seus moradores passaram a postular a sua independência em relação a Olinda, o que foi um dos elementos detonadores do conflito.
Embora dependentes economicamente dos comerciantes portugueses, os senhores de engenho pernambucanos não aceitaram a emancipação político-administrativa do Recife, até então uma comarca subordinada a Olinda. A emancipação do Recife foi percebida como uma agravante da situação dos latifundiários locais (devedores) diante da burguesia lusitana (credora), que por esse mecanismo passava a se colocar em patamar de igualdade política.
No romance Lourenço, a indignação da nobreza da terra é bem capturada na seguinte passagem:
“- Que víamos antes da luta? Dois interesses, um estrangeiro, outro brasileiro. Levados a cobiça, e não satisfeitos com serem senhores do comércio e das indústrias, os portugueses europeus queriam chamar a si a agricultura, impondo aos agricultores obrigações que redundavam em ficarem estes à mercê daqueles. Como não pudessem, por meios lícitos, levar a efeito o seu intento, maquinaram criar a vila onde tinham e onde têm a sua força, e tornar-se, por este modo, árbitros dos preços dos gêneros que haviam de ser forçosamente tachados por almotacés do seu plano; e este diabólico intento estaria de todo realizado, se a nobreza não pusesse para fora o governador que tivera o arrojo de promover a criação da vila maldita”.
Nos dois romances que tratam da Guerra dos Mascates, o escritor realça a violência do conflito, que opôs bandoleiros mascates liderados por Camarão e Tundacumbe e outros tipos populares, e uma nobreza altiva que se recusou a capitular e chegou mesmo a desenvolver uma “guerra de guerrilhas”, até a obtenção do perdão de El-Rei três anos após o início da guerra.
Como dito, no romance, o escritor claramente se posiciona favorável aos nobres de Olinda, vistos como precursores do nativismo e do movimento da independência, de acordo com o nacionalismo da escola literária romântica.
Vejamos como eram retratados os mascates:
“Afiguravam-se estes aos seus olhos vultos patibulares, visões pavorosas como demônios em que ele acreditava.
Tinham calças arregaçadas e enlameadas, as jaquetas pegadas ao corpo, chapéus ainda umedecidos e demudados, nas faces estampado o sono, o cansaço, a fome e a maldade, nas mãos armas sinistras e ameaçadoras.
Grande parte desta força passante, de duzentos homens, era composta de caboclos; no restante havia de tudo – negros, curibocas, semibrancos e até brancos”.
Mais do que uma história épica da Guerra dos Mascates, temos neste romance uma descrição da fisionomia física e moral do “matuto” que é o sertanejo agricultor, o lavrador, o almocreve, bem como da sua estrutura familiar, dos costumes, do folclore, das festas populares, do papel da religião, dos enlaces conjugais. Mais do que um romance histórico, temos a partir da leitura deste romance regionalista uma fonte preciosa do sertanista brasileiro:
“No tocante ao traje, ver um dos matutos era o mesmo que ver os demais. Camisa por cima de ceroulas de algodão – eis em que ele consistia.
Todos tinham os pés nu, e quase todos por cima do cós das ceroulas o longo cinto de fio, cofre portátil onde traziam o dinheiro, terminando em cordões com bolotas nas pontas, os quais serviam para dar muitas voltas em torno da cintura antes do laço final. Metida entre o cinto e o cós guardava cada um sua faca de ponta presa pela orelha da bainha. Da arma só aparecia o cabo, figurando a cabeça de uma serpente que tinha o restante do corpo oculto.”.
OS ÚLTIMOS MOMENTOS DA VIDA
Já no final da vida, com a morte da mãe e uma doença nos pulmões, Franklin Távora abandona a literatura e os trabalhos institucionais, passando, inclusive, por dificuldades financeiras.
O escritor morreu no dia 18 de agosto de 1888, com poucas pessoas comparecendo ao enterro. Sílvio Romero, um dos poucos escritores presentes no velório, resumiu com estas palavras o drama vivido pelo seu amigo: “Cumpre destacar em síntese o valor deste escritor, sempre muito maltratado pelos literatos de seu tempo.”.
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BIBLIOGRAFIA
“O Matuto” – Franklin Távora – Editor Iba Mendes
“Lourenço” – Franklin Távora – Editor Iba Mendes
“Franklin Távora” – Cláudio Aguiar – Série Essencial – Academia Brasileira de Letras – Imprensa Oficial.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
O amor ofendido, e vingado (Conto histórico)

O AMOR OFENDIDO, E VINGADO
A Violação da Fé conjugal tem sempre arrastado em seu séquito as mais grandes
desgraças. Não se pode lançar os olhos sobre a historia, sem que se ache disto
mil exemplos funestos. Os Galos Bélgicos nos oferecem um, capaz de fazer
impressão sobre os corações, que não forem inteiramente privados do sentimento
da virtude.
No ano de 1539 vivia em uma terra considerável
entre Gand, e Curtrai, a Condessa de Leerven, viúva, e possuidora de bens imensos.
Ela não tinha mais do que uma filha chamada Adriana, a qual a uma grande beleza
ajuntava muito de engraçada. A natureza a tinha dotado de muito boas
qualidades, que uma má educação tinha corrompido. Seu caráter, ainda que dócil
no seu fundo, era firme; ordinariamente transportado; e algumas vezes extremo.
Acostumada a não ser contradita, nada a podia desviar dos projetos, que uma vez
tinha concebido: a Condessa sua Mãe, que a idolatrava, a deixava absolutamente
Senhora de suas vontades.
Um tão grande partido foi logo
procurado por muitas pessoas. Entre o grande número de seus adoradores, o Barão
de Vierkove teve a felicidade de agradar a Adriana. Ele era de uma figura
encantadora, e feita para o amor; sua alma sensível, e terna, não pôde resistir
aos atrativos de Adriana; e como ele devia bem pouco temer seus rivais, não
tardou em ser feliz. O partido era conveniente; por ser ele também o herdeiro
de sua casa. A Condessa aplaudiu a escolha de sua filha, e estes felizes
amantes forram unidos com magnificência, e grande contentamento de suas
respectivas famílias.
Nunca união alguma deu sinais de ser
mais constante. Havia pouco mais ou menos um ano que eles viviam nesta feliz, e
rara inteligência, quando perderam a Condessa de Leerven.
Depois de lhe terem feito os últimos
deveres, eles foram a Gand, para distraírem a sua dor. Naquele tempo o
Imperador Carlos V vem a Flandres para apaziguar as perturbações, que ali se tinham
levantado por ocasião das novas taxas, que ele tinha imposto; e ficou algum
tempo nesta Cidade, onde fez severamente castigar os amotinadores.
O Barão, que tinha a honra de ser
particularmente conhecido deste Príncipe, foi fazer-lhe sua Corte: ele foi de
todos os prazeres deste Soberano, e mesmo algumas vezes fazia partida com ele.
Não havia algum concerto, que o Imperador não fizesse executar por Músicos
Italianos, que trazia consigo. Safira, celebre Cantarina, tinha tanto de espírito
como de talento: ainda moça, divertida, e espirituosa, bem depressa se apercebeu
da impressão, que sua voz, e seus encantos tinham feito sobre o terno Nierkove;
ele esquece-se de suas protestações à terna Adriana; ele se abandona à sua nova
paixão, e só vivia para Safira. Ele corre a sua casa, lança-se a seus pés,
pinta-lhe seu ardor em termos os mais persuasivos, enche-a de seus donativos:
em fim, ouro, diamantes, festas, tudo foi prodigalizado. Duvida-se bem qual dos
dois foi o mais feliz. Quando se reúnem os talentos, a figura, a fortuna, e o
nascimento, pode-se por ventura achar mulheres cruéis, principalmente no estado
de Safira?
O Barão só se ocupava de sua felicidade
(se dela se pode gostar, quando imprudentemente se faz desgraçada uma Esposa
digna da mais viva ternura): tal é a desordem do coração humano, quando ele se
entrega a seus desejos, e quando a razão o abandona.
A triste Adriana não pôde conceber em
seu Esposo uma mudança tão repentina: ela estava muito bem persuadida de sua
infidelidade: as liberalidades do Barão já se tinham notado, e a sua
familiaridade com Safira era pública a toda a Corte. A desafortunada Baronesa
deixou ao tempo o cuidado de fazer tornar a si este infiel: ela se persuadia
que aquilo mesmo que lhe tinha roubado seu Esposo, poderia da mesma sorte
restituir-lho. Além disto ela sabia que o único meio de reganhar um inconstante,
era mostrar-se ignorante de sua perfídia, servindo-se somente de paciência, e
de doçura. As repreensões irritam; o silêncio nos condena, e nos faz entrar em
nós mesmos.
Ela tomou pois este partido; e escreveu
ao Barão dizendo-lhe, que se ele tinha negócios na Corte, ela partia à sua Pátria
a tratar de seus interesses; e que lá esperava noticias suas. Sem lembrança de
resposta, ela partiu logo, penetrada de dor, e desesperação. Ela adorava o
Barão: sua inconstância a penetrou sensivelmente. O retiro em que ela vivia,
longe de extinguir seu amor, lhe deu pelo contrario novas forças. Somente
corações sensíveis, que tem experimentado a mesma sorte que Adriana, podem
julgar da grandeza de seus males.
O Barão, sempre encantado de sua
querida Safira, parecia ter-se inteiramente esquecido de Adriana: ele sobre
isto nada falava a seus amigos; e ninguém da mesma sorte se atrevia a falar-lhe:
ele mesmo nunca mais lhe escreveu. Sempre ocupado de sua amante, não a deixava
um só momento. Ele a retirou da comitiva do Imperador, que tinha partido para Espanha.
Ele lhe procurou uma casa toda abundante; e prazeres sempre novos preveniam
continuadamente os desejos da galante Safira, ambos no meio das delicias julgavam
perpétua a sua felicidade!
As pessoas de honra começaram a
murmurar: ainda não era costume, e principalmente em Flandres, ver-se o escândalo
sem desassossego. Quanto estes tempos se tem mudado! Presentemente se faz
consistir nisto mesmo a fidelidade; ninguém se envergonha de tratar como respeitáveis
estas uniões criminosas quando elas são duráveis: o crime aplaudido goza hoje
das vantagens da virtude. A vida publica de Nierkove, e de Safira indispunha o
povo; e disto mesmo eles foram informados. O Barão para evitar tudo isto,
resoluto a ir estabelecer-se em Veneza, desfez-se de seus contratos, e de suas
terras, para fazer transportáveis todos os seus bens. Adriana, que não ignorava
o menor passo de seu marido, não pôde resistir a este último golpe. Transportada,
de furor...
Ingrato, exclama ela,
é este o fruto do amor que em mim tens experimentado. A perda de teus bens não
é o que me aflige: liberaliza-os à tua indigna, e vil Safira, porém restitui-me
o teu coração. Torna a mim querido, e cruel Esposo; meu amor te perdoa... Mas,
que digo? O infiel vai partir... Pode ser que ele se aparte de mim para
sempre!... Não, perjuro!... tu não me escaparás, eu saberei punir-te minha
vingança fará tremer, servindo de exemplo àqueles, que como tu, desprezam a ternura
de uma Esposa desafortunada... Eu tenho procurado todos os meios de te
recuperar; o tempo, meu silêncio, minhas lágrimas, minha desesperação, não tem
podido abrandar-te... A morte só é... Que digo eu? Ai de mim!... Sim, sim,
cruel, a morte só vai unir-vos.
Adriana escreveu logo a uma de suas
amigas, e lhe pediu em um escrito separado que só abrisse sua carta, passados
oito dias; porque ela continha cousas de última importância, que se deviam
ignorar até este tempo. Ela fez logo pôr grades em todas as janelas de seu
aposento, e pregar nas portas fechaduras ocultas, cujo segredo só ela conhecia.
No mesmo tempo dispôs tudo de sorte que pudesse prosperar o terrível projeto,
que tinha meditado. Quanto é para temer uma mulher justamente irritada! A
desesperação ocupa toda a sua alma; a vingança a mais terrível lhe parece
suave; as maiores extremidades meios ordinários; e sua própria fraqueza parece
dar-lhe todas as forças.
Tudo assim disposto, ela finge uma doença
mortal: de uma mão trêmula ela escreve a seu Esposo: Eu morro, e vos perco. Eu não vos imputo a minha morte, e rogo ao Céu
que vos inspire o arrependimento. Vós recebereis todos os meus bens da mão de
um amigo comum, que deles será o depositário. Eu não choro a vida; porque nem
tenho filhos, nem Esposo, ai de mim! que me pertençam. Poucas horas tenho já de
vida; ao menos concedei-me a graça de vos tornar a ver a última vez. Vivei
feliz, eu morro, e vos adoro.
O desgraçado Barão caiu no laço, que
era difícil evitar-se. Ele se persuadiu que não devia honradamente deixar de ver
sua mulher morrendo: este passo lhe pareceu inocente, e a lembrança do deposito
lhe facilitava o meditado projeto de fugir com Safira. O interesse teve muito
mais poder sobre seu coração do que o amor. Safira, que não podia suspeitar a
desgraça de seu amante, o persuadiu a que desse esta última consolação à Baronesa
espirando. Ele parte, e em poucos momentos ele chega à sua terra. A tristeza,
que ele vê espalhada entre toda a família, moveu sua piedade. Um negro pressentimento
se apodera de seu coração, e sem poder dar conta de seu transporte, ele entra
tremendo na Câmara de sua Esposa. As gentes, que à vinda inesperada de
Nierkove, tinham ordem de se retirar, os deixam sós. A furiosa Adriana fecha logo
todas as portas. De repente, com os olhos errantes, ela se levanta, e vai a seu
gabinete pôr fogo, (sem que seu marido disto se aperceba) a algumas matérias combustíveis,
que ela tinha preparado; e logo torna, e se lança repentinamente sobre seu
leito. O Barão aterrado quer chamar socorro, persuadindo-se que era isto efeito
de transporte: porém qual foi seu espanto quando ele viu de repente toda a casa
em fogo. Treme, perjuro, exclama
Adriana, e reconhece uma Esposa ultrajada: já
que tu não tens podido viver comigo, ingrato, ao menos poderás morrer. A violência
da chama, que vai a consumir-te, não igualará jamais os fogos, que me tem abrasado
por ti... A estas palavras o fumo lhe tira a respiração: o Barão sobressaltado
debalde procura salvar-se. Bem depressa a chama sai pelas janelas: correm a socorrê-los;
arrombam-se as portas; porém já é tarde: estes Esposos se acham prostrados, e
já meios consumidos.
Os progressos deste incêndio foram tão
rápidos, que em pouco tempo todo o edifício foi reduzido a cinzas. A notícia
chegou logo a Gand: assentou-se que este fogo tinha sido efeito da casualidade;
porém a carta que Adriana tinha escrito à Viscondessa Copens, sua amiga,
revelou este horrível mistério. Ela queria sem duvida deixar à posteridade um tremendo
exemplo da vingança de uma mulher desesperada, e uma imagem terrível do castigo
de um Esposo perjuro, e querido.
---
Traduzido do francês em 1918.
Revisão ortográfica: Iba Mendes (2023)
segunda-feira, 19 de dezembro de 2022
Os dois pequenos e a bruxa (Conto popular português), de Consiglieri Pedroso
Os dois pequenos e a bruxa
Era uma vez uma mulher que tinha um
filho e uma filha. Um dia a mãe mandou o filho buscar cinco réis de tremoços e
depois disse para os dois:
— Meus dois filhinhos, até onde
acharem as casquinhas de tremoços, vão andando pelo caminho afora, e em
chegando ao mato lá me hão de encontrar apanhando lenha.
Os pequenos assim fizeram.
Depois da mãe sair, foram andando
pelas castanhas de tremoços que ela ia deitando para o chão, mas não a
encontraram.
Como já era noite, viram ao longe
uma luz acesa. Foram caminhando para lá e viram uma velha a frigir bolos.
A velha era cega de um olho, e o
pequeno foi pela banda do olho cego e furtou- lhe um bolo, porque estava com
muita fome.
Ela, julgando que era o gato,
disse:
— Sape, gato! Bula que não bula,
que te importa a ti?
O pequeno disse para a irmã:
— Agora vai lá tu!
A pequena respondeu:
— Não vou lá que eu pego-me a rir!
O pequeno disse que ela havia de
ir, e a irmã não teve mais remédio, e foi. Foi pelo lado do olho cego e tirou
outro bolo.
A velha, que julgava outra vez que
era o gato, disse:
— Sape, gato! Bula que não bula,
que te importa a ti?
A pequena largou-se a rir.
A velha voltou-se, viu os dois
pequenos e disse para eles:
— Ai, sois vós, meus netinhos!
Comei, comei para engordar.
Depois agarrou neles e meteu-os num
caixão cheio de castanhas.
No outro dia chegou ao caixão e
disse para eles:
— Deitai os vossos dedinhos, meus
netinhos, que é para ver se estais gordinhos.
Os pequenos deitaram o rabo de um
gato, que acharam dentro do caixão.
A velha disse então:
— Saí, meus netinhos, que já estão
gordinhos.
Tirou-os para fora do caixão e
disse-lhes para irem à linha com lenha.
Os pequenos foram para o mato por
uma banda, e a velha foi por outra. Quando chegaram a um certo lugar,
encontraram uma fada.
A fada disse-lhes:
— Andais à lenha, meninos, para
aquecer o forno, mas a velha quer assar-vos nele!
Depois contou que a velha havia de
dizer para eles: “Sentai-vos, meus netinhos, nesta pazinha, para vos ver balhar
dentro do forno! E que eles lhe haviam de dizer que se sentasse ela primeiro,
para eles verem como era.”
A fada foi-se embora.
Daí a pouco encontraram-se os
pequenos com a velha do mato.
Apanharam a lenha toda que tinham
cortado e foram para casa acender o forno.
Depois de acenderem o forno, a
velha varreu-o muito bem varrido e depois disse para eles:
— Sentai-vos, meus netinhos, nesta
pazinha, para vos ver balhar dentro do forno!
Os pequenos responderam como a fada
os tinha ensinado:
— Sentai-vos aqui primeiro,
avozinha, nesta pazinha, para nós vos vermos balhar dentro do forno!
A velha, como queria assá-los,
sentou-se na pá, e eles mal a viram sentada, empurraram a pá para dentro do
forno.
A bruxa deu um grande estouro e morreu queimada, e os pequenos ficaram senhores da casa e de tudo quanto ela tinha.
A morte que fez um homem rico (Conto), de Consiglieri Pedroso
A morte que fez um homem rico
Um homem tinha muitos filhos, e já
todos os homens da freguesia eram seus compadres.
A mulher alcançou outra vez e
pronta estava para parir. O homem, que não queria pedir a mais ninguém, abalou
de casa.
Encontrou no caminho um homem muito
desfigurado, que lhe perguntou aonde ele ia.
Ele contou-lhe, e o homem disse-lhe
que voltasse para trás, que ele era o seu padrinho.
Assim foi.
Quando acabou o batizado, o homem
disse:
— Compadre, repare bem para mim, para
me conhecer onde quer que me encontrar. Eu sou a Morte. Tu muda de casa e
faz-te médico, que hás de ganhar muito dinheiro. Em tu me vendo aos pés da cama
de qualquer doente, é porque ele escapa. Em tu me vendo à cabeceira, é porque
ele morre.
O homem assim fez; começou a ter
muita fama e ganhava muito dinheiro e já estava muito rico mais os filhos.
Num dia a Morte chegou-se ao pé
dele e disse-lhe:
— Bem, agora já te fiz rico, mas
hoje chegou a tua vez e venho matar-te.
O homem pediu muito que o deixasse
viver mais um ano.
A Morte consentiu.
O homem então mandou fazer uma
torre de bronze, com as paredes muito grossas, para a Morte lá não entrar.
Quando o ano estava quase a acabar,
ele mandou fazer um anel de ouro, meteu-o no dedo e fechou-se na torre.
Estava lá a jantar, e apareceu-lhe
a Morte ao pé dele.
Ele, muito assustado,
perguntou-lhe:
— Ó comadre Morte, tu por onde é
que entraste?
A Morte disse que pelo buraco da
fechadura.
Ele então disse-lhe:
— Já que tu te meteste pelo buraco
da fechadura, hás de meter-se pelo buraco desta cabaça.
A Morte meteu-se e ele tapou a
cabaça com uma rolha e disse à Morte:
— Agora sai daí para fora se és
capaz.
A Morte disse-lhe:
— Ó compadre, pois eu fiz-te tanto
benefício, e tu agora queres-me aqui deixar dentro desta cabaça? Tira-me a
rolha, que eu não te faço mal.
O homem tomou a perguntar-lhe se
ela não lhe fazia mal.
A Morte disse que não.
Ele destapou a cabaça e, ao tempo
que destapou, caiu, mas não morto, e a Morte roubou-lhe o anel.
Ele disse:
— Ó comadre, então tu prometeste-me
que não me matavas, e agora queres-me matar. Deixa-me ao menos rezar um
Padre-Nosso e uma Ave-Maria pela minha alma.
A Morte consentiu.
Ele que fez?
Começou a rezar o Padre-Nosso até
ao meio e depois tornava a começar.
De modo que a Morte não o podia
matar.
O homem então saiu da torre e
começou outra vez na sua vida.
Um dia andava ele à caça e a Morte
fingiu-se de morta no meio do monte.
O homem chegou e, julgando que era
um homem morto, disse:
— Ah! Pobre homem, quem te matou?
Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave Maria pela tua alma.
Rezou, mas ao tempo que acabou, a Morte levantou-se e matou-o.
domingo, 12 de abril de 2020
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
Espírito revolucionário na obra de Eça (Crítica Literária)

quarta-feira, 8 de maio de 2019
Epaminondas (Conto), de Artur Azevedo


terça-feira, 7 de maio de 2019
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Movidos pelo ódio

É isso!
sábado, 29 de julho de 2017
A nova sede da Jucesp na Lapa
Agora a Jucesp será na LapaConforme Decreto nº 62.730, de 28 de julho de 2017, publicado no Diário Oficial de 29/07/2017, o Governador de São Paulo autorizou a Fazenda do Estado a permitir o uso por prazo indeterminado, em favor da Junta Comercial do Estado de São Paulo, do imóvel localizado no bairro da Lapa (Zona Oeste), à Rua Guaicurus, nº 1.274/1.374.
O local especificado, no qual será estabelecida a nova sede da JUCESP, ocupava anteriormente o centro de difusão científica da USP, denominado "Estação Ciência", que fechou suas atividades ao público no ano de 2013. Trata-se de um edifício histórico da cidade, tombado em 2009 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Portanto, a instalação da nova sede da Junta Comercial está condicionada às regras referentes ao tombamento do prédio, levando em conta a preservação de suas características arquitetônicas externas e internas, tais como: fachadas, volumetria, cobertura, estruturas internas de madeira e dos telhados, pisos etc.
"Ao longo dos anos, o edifício sofreu adaptações, como o acréscimo de um andar onde havia anteriormente uma altura de seis metros entre o piso e a cobertura. Em 1985, durante as discussões sobre o Terminal Rodoviário da Lapa, comerciantes e líderes comunitários da Lapa pleiteavam a conservação dos galpões da Rua Guaicurus, vizinhos à Estação Ferroviária da Lapa (FEPASA). Arquitetos, artistas e engenheiros criaram a Comissão de Preservação e Utilização dos Galpões. Alegavam o valor histórico dos galpões, nos quais a fábrica têxtil forneceu oportunidades de trabalho à colônia italiana instalada na região e aos trabalhadores em geral. No final deste mesmo ano, o CONDEPHAAT iniciou estudos para tombamento destes galpões de arquitetura industrial típica do início do século XX, vetando demolição ou qualquer alteração na estrutura do prédio. Em 19 de dezembro de 1986, através do Decreto n. 26.492, o Governo do Estado cedeu o uso de parte do imóvel ao CNPq, para a instalação do Centro de Ciência para a Juventude. Destinou 6 módulos, com área total de 1915 m². Em 24 de junho de 1987 foi inaugurada a Estação Ciência."
Ao pessoal preocupado com os seus veículos, o bairro possui inúmeros estacionamentos particulares com preços variados para mensalistas. É possível ainda estacionar em algumas ruas próximas, porém, não é algo que se aconselha.
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