segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A morte que fez um homem rico (Conto), de Consiglieri Pedroso


A morte que fez um homem rico

Um homem tinha muitos filhos, e já todos os homens da freguesia eram seus compadres.

A mulher alcançou outra vez e pronta estava para parir. O homem, que não queria pedir a mais ninguém, abalou de casa.

Encontrou no caminho um homem muito desfigurado, que lhe perguntou aonde ele ia.

Ele contou-lhe, e o homem disse-lhe que voltasse para trás, que ele era o seu padrinho.

Assim foi.

Quando acabou o batizado, o homem disse:

— Compadre, repare bem para mim, para me conhecer onde quer que me encontrar. Eu sou a Morte. Tu muda de casa e faz-te médico, que hás de ganhar muito dinheiro. Em tu me vendo aos pés da cama de qualquer doente, é porque ele escapa. Em tu me vendo à cabeceira, é porque ele morre.

O homem assim fez; começou a ter muita fama e ganhava muito dinheiro e já estava muito rico mais os filhos.

Num dia a Morte chegou-se ao pé dele e disse-lhe:

— Bem, agora já te fiz rico, mas hoje chegou a tua vez e venho matar-te.

O homem pediu muito que o deixasse viver mais um ano.

A Morte consentiu.

O homem então mandou fazer uma torre de bronze, com as paredes muito grossas, para a Morte lá não entrar.

Quando o ano estava quase a acabar, ele mandou fazer um anel de ouro, meteu-o no dedo e fechou-se na torre.

Estava lá a jantar, e apareceu-lhe a Morte ao pé dele.

Ele, muito assustado, perguntou-lhe:

— Ó comadre Morte, tu por onde é que entraste?

A Morte disse que pelo buraco da fechadura.

Ele então disse-lhe:

— Já que tu te meteste pelo buraco da fechadura, hás de meter-se pelo buraco desta cabaça.

A Morte meteu-se e ele tapou a cabaça com uma rolha e disse à Morte:

— Agora sai daí para fora se és capaz.

A Morte disse-lhe:

— Ó compadre, pois eu fiz-te tanto benefício, e tu agora queres-me aqui deixar dentro desta cabaça? Tira-me a rolha, que eu não te faço mal.

O homem tomou a perguntar-lhe se ela não lhe fazia mal.

A Morte disse que não.

Ele destapou a cabaça e, ao tempo que destapou, caiu, mas não morto, e a Morte roubou-lhe o anel.

Ele disse:

— Ó comadre, então tu prometeste-me que não me matavas, e agora queres-me matar. Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave-Maria pela minha alma.

A Morte consentiu.

Ele que fez?

Começou a rezar o Padre-Nosso até ao meio e depois tornava a começar.

De modo que a Morte não o podia matar.

O homem então saiu da torre e começou outra vez na sua vida.

Um dia andava ele à caça e a Morte fingiu-se de morta no meio do monte.

O homem chegou e, julgando que era um homem morto, disse:

— Ah! Pobre homem, quem te matou? Deixa-me ao menos rezar um Padre-Nosso e uma Ave Maria pela tua alma.

Rezou, mas ao tempo que acabou, a Morte levantou-se e matou-o.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, pessoal!

Compartilhe aqui suas experiências. Elas certamente serão muito úteis para quem um dia vier necessitar de informações. Obrigado!